Monólogos Noturnos

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A cada lua cheia sei que do outro lado

 do abismo você também a contempla.

Quando na noite te encontrei pela primeira vez, sua ingênua face dobrou meu coração duro. Tudo era novidade para você, enquanto eu seguia teu rastro como um perseguidor. Não aches que me encontrou primeiro, pois meu instinto te achou muito antes. Fui um predador selvagem em busca do teu bem mais precioso: a pureza.

Levei-te ao céu com palavras rebuscadas e te enterrei no inferno com o meu desprezo. O preço da imortalidade é então a dor que consome e não me mata. Sei que apaguei o teu brilho no espelho e agora não posso te salvar. Não me lembro em qual caminho nos perdemos, sei que o nosso novo alimento é a angústia eterna. Hoje sinto minhas palavras vazias e pronunciadas ao nada: estou só.

Enquanto me fecho em um caixão de dor e silêncio, ainda ouço serpentear a tua voz. Doce solfejo de dualidade. Sei que me aproximo cada vez mais do oposto de onde você esta. Meu calvário esta acabado e não tenho mais forças para gritar por ti. Toda melodia se perdeu, todo verso se apagou, toda verdade desapareceu agora só resta e um abismo de procuras.

No meu diário de pedra já não tem palavras, pois sem alimento não existe sangue para tingir as palavras mal escritas. Assim, não deixarei nada para marcar nosso insólito amor. Serei o nada no esquecimento, a face tingida de preto. Porém, eternamente saberemos o que vivemos e que era verdade, a nossa verdade.

Hoje tem lua cheia, e sei que nestes dias ela nos vela. Minha sede aumenta, mas minha contemplação e minha agonia não me deixam prosseguir. Se desistir é para os fracos, só estarei confirmando o que sempre fui. Quero ecoar somente o lamento, enquanto o vento não cessa.

Que o berço noturno me aconchegue e em cada sonho com ela eu possa ter a luz da verdade iluminando. Neste momento estarei vivo novamente, no mundo tão nosso, onde os combates e verdades eram somente os nossos anúncios de conflitos e amor verdadeiro. Mas mesmo que haja abismo que este seja mais uma vez iluminado pela matriarca lua.